A vendedora de roupas falsificadas

Pra começar, o hooded GAP sairia por 650 yuans – R$ 330. Eu já tinha sido alertado: se achassem que eu tivesse dinheiro, os vendedores do Silk Street Market, em Pequim, me depenariam sem piedade, e que era necessário barganhar com energia. Mas a vendedora deve ter me achado com cara de otário também. Miúda, jovem, perigosamente simpática, ela me conduziu pelo braço até o cubículo onde outras duas vendedoras ajeitavam as peças falsificadas – perfeitas – que fazem a festa dos turistas. Com inglês básico, mas muito prático, ela sacou uma enorme calculadora cor-de-rosa Hello Kitty, e foi me dando “descontos”, baixando o preço para 630, 600, 550… Diante das minhas negativas, pediu que eu digitasse minha contraoferta. Radicalizei: 50. Ela arregalou os olhos e, sem nunca deixar de ser amistosa, fez que me socava, deu bronca, disse que aquilo não pagava nem uma camisetinha de criança. Eu disse que, então, não estava interessado. Coisa que ela não aceitou bem. É bom que se saiba: deixar um freguês ir embora sem comprar não faz parte do repertório comercial local. Peguei o moletom na mão e apontei a etiqueta, que marcava… 365 yuans. “Ah, isso são dólares”, disse ela, mas de imediato se deu conta do absurdo da coisa. Riu. “Você está sendo muito, muito duro comigo”, choramingou. “Estou cansada, em pé aqui desde manhã…” E fez a oferta final: 100 yuans, R$ 50. Fechado. Fazendo-se de sentida, disse que eu podia, pelo menos, pagar um sorvete pra ela, 5 yuans. Ok. “Verdade?” Sim. “Pra nós três?” Ri de incredulidade, as outras duas meninas riram também. Lá vamos nós de novo. Fui com ela ao carrinho logo atrás do cubículo, paguei os sorvetes e, na volta, ela ensaiou tentar me vender a calça do moletom. De novo, não.