Tempo redescoberto

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Nos últimos anos, os almanaques de época se transformaram num dos mais notáveis sucessos editoriais no país. Na esteira da série lançada pela Ediouro, seguiram-se outras várias edições, sempre com a receita de explorar uma combinação de memória afetiva, nostalgia sem compromisso, humor, um tanto de autocomplacência e uma pitadinha (indispensável) de sóbria melancolia. Entre as mais recentes está Você é Jovem, Velho ou Dinossauro?, de Ignácio de Loyola Brandão (Global, 176 págs., R$ 29).

Os suspeitos de sempre estão lá: Biotônico Fontoura, Genius, japona, bambolê, Conga. O melhor de tudo em publicações desse tipo, contudo, está no potencial de “surpresa”, digamos assim, que elas têm. Lendo o livro, redescobri coisas que fiz, vi ou testemunhei, mas que, por qualquer razão, tinham desaparecido de minha memória – algumas completamente. É uma sensação e tanto se surpreender com seu próprio passado.

Elenquei algumas que, antes inexistentes, ficaram claríssimas para mim agora, desembaraçada ínfima parte do novelo que constitui nossas memórias. Reproduzo-as como elas aparecem no livro, em forma de perguntas.

  1. No armazém da esquina tinha um quadrinho pendurado? : EU VENDI FIADO (mostrando um homem na miséria) EU VENDI A DINHEIRO (mostrando um homem rico)
  2. Lembra-se da placa que existia  em todas as porteiras dos cruzamentos-ferrovia? : PARE! OLHE! ESCUTE!
  3. Brincou de passa anel? Só para passar a mão nas mãos das meninas?
  4. Na sua casa tinha papel higiênico Tico-Tico?
  5. Curtia as civilizações perdidas, a paranormalidade, o esoterismo, o poder da mente e outros assuntos até então tabus, expressos todos os meses na revista Planeta?
  6. Na sua casa tinha um plástico colorido em frente ao aparelho de televisão para dar a ilusão de tevê em cores?
  7. Passava pela avenida Rebouças, em São Paulo, para ver o gatinho branco (de louça) subindo no telhado?
  8. Encontrava por toda a parte a inscrição, quase slogan: Cão Fila – Km 26? Chegou a descobrir o significado que era obscuro para a maioria?

Das acima citadas, as coisas mais incríveis são o aviso do fiado — visualizei não apenas o quadrinho, mas também o balcão da venda e a vitrine com doces de Cr$ 0,50. Sobre o passa anel, lembrava bem da brincadeira, mas tinha desaparecido a (clara) intenção, na época, de passar a mão nas mãos das meninas. Quanto ao gatinho de louça que se movia no telhado de uma casa na Rebouças, o que me espantou foi o seu desaparecimento sem que eu tivesse me dado conta, como se ele nunca tivesse existido.

No próximo post, listarei outras coisas, que não estão no livro. Coisas que acabei lembrando também por conta da leitura.

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